terça-feira, 27 de maio de 2014

Allo! Europa! Escuta...


Allo!

Daqui do Sudoeste chamo a Europa toda!

Como diria o poeta filósofo Pessoa, humanizando a forma geográfica desta Europa, daqui “cabeça da Europa toda”.
Portugal foi o primeiro na Europa a crescer para além do mar.

Sim, escravizamos. Mas também matámos e morremos.

Fomos á sorte e á conquista e as glórias também nos deixaram  feridas.

Do reino levaram vidas, no reino deixaram viúvas e órfãos. E é tão fácil ver a crítica de Camões nas palavras do velho do Restelo a essa gloria de mandar e vã cobiça.
Sabes Europa, o mundo pode acusar a nossa história do tráfico negreiro, eu sei. Mas não posso corrigir os erros dos meus antepassados.

Não posso Corrigir os erros do colonialismo, da segregação racial, não posso.

Mas posso servir-me dessa história de domínio efémero para dizer que todos os homens são iguais e têm sonhos.

Para dizer que se hoje a língua lusa é falada em todos os continentes isso significa a dor e o sangue de Portugal, do Brasil, de Angola, de Moçambique, de Ceuta (onde tudo começou), de todas as costas de África, de Timor, desde o Indico aos mares da China, ás fronteiras Amazónicas.
Olha Europa, eu hoje vivo na cidade onde chegaram os primeiros japoneses á Europa. Eu nasci na cidade do navegador que deu nome á península do Labrador no Canadá, essa coisa a que nós portugueses no passado demos o nome de Terra Nova - New found land.
Afinal chegamos á conclusão que não foi o capitão Kook mas sim um Cristóvão de Mendonça e um Gomes de Sequeira no século XVI que primeiro chagaram á Austrália, e que antes de Colombo já em Portugal se sabia do Brasil muito embora só se tenha oficializado o achamento em 1500.

Europa, diz-me, devo ter orgulho ou remorso? Descobrimos o mundo e derramamos sangue, o nosso também!
Na fé ficamos com Roma, renegamos Martin Luter e Mohamed, mas com eles nos cruzamos sempre ao longo da História.
Europa, demos a nossa princesa a Carlos V e com seu filho perdemos a independência. Independência? Carlos V era senhor de meia Europa e nós demos-lhe uma esposa. Era senhor dos principados germânicos, dos Paises Baixos, de parte da Itália…
Europa, Portugal casou contigo durante sáculos. A casa de Avis casou com a casa de Lencaster e fez a mais velha aliança da Europa.
Por essa aliança meu avô foi defender a França nos campos da Flandres. Lembras-te Europa? Os meus antepassados da Casa dos Absburgos, da dinastia Filipina, guerrilhavam os meus inimigos das guerras napoleónicas, os franceses que quase ocuparam a totalidade deste Portugal, e o meu avô foi lutar pelos franceses.
Olha Europa, para o bem e para o mal estamos casados, nenhum mar nos separa, somos um contínuo de cidades e de gente. Gente que quer ser feliz.

Isso somos nós, Europa, os “europeses” como gosto de dizer.
Europa, aqui no sudoeste onde a terra acabava e o mar começava, aqui no

finisterra ou  no ponto mais setentrional, corre-me o sangue de todos que encontraram aqui o fim da jornada porque a história os empurrou para aqui. E foram celtas, foram germânicos, e vieram do levante, vieram da Elada, vieram de Cartago, do Latio, das margens do Pó, do Tigre, do Nilo. E vieram falar de Alá aos cristianizados Visigodos, germânicos.

Todos vieram por aqui.
Não esqueças Europa que quando nos anos 40 do vigésimo século, cometias todo o tipo de atrocidades em nome das pátrias e de uma raça (pura?) era por Cascais que andavam as cabeças coroadas, refugiados ricos e espiões!
Europa, eu, humilde nascido á beira do Atlântico neste território a que chamamos Portugal, e este nome radica em porto, local de abrigo de navios e navegantes, peço-te: olha para essa coisa que o século das luzes produziu “O Direito do Homem e Cidadão”. Olha a tua c cristianização como primado de respeito pelo outro, princípio vinculado por Erasmo onde se pretende o respeito do Homem pelo Homem.
Eu, Europa, com toda a carga e peso de toda a História, em tudo que tem de positivo e negativo, (não esqueço que nós e os nossos irmãos daqui do lado nesta Ibéria fomos responsáveis pelo maior acidente ecológico da História, e não foi pelas armas, foi pelas doenças que levámos ás américas) que fizemos a primeira globalização, peço-te: pensa em cada “europes” como um mundo repleto de memórias e histórias. Se queremos ser o velho continente que expandiu ao mundo, ou pretende expandir, os valores dessa democracia que nasceu na Elada, dessa república que nasceu em Roma e que a França deu nova expressão, o direito que confrontou Roma e Germânia, o apurar das filosofias, do Humanismo, das Luzes, da consciência de que todos os seres humanos são iguais em direitos e deveres, que nenhuma nação, religião, cultura, cor de pele, pode significar mais ou menos.
Peço-te, Europa, constrói-te como uma Nação de culturas, uma Nação de solidariedade, uma Nação que, de todos os tempos e de todos os países seja portadora das mensagens dos melhores e dos piores e que uses os melhores para continuar e os piores para saber por onde não ir.
Nós, os de Portugal só chegaremos aos de França se os de Espanha nos deixarem passar. Nós, os de Portugal e Espanha só chegaremos ao resto se os de França nos deixarem passar.

Nós todos do Norte e do Sul, do Este e do Leste só conseguiremos ser se formos todos, solidários.

Partilharmos o mesmo prato, a mesma manta é o objectivo.

Os campos de caça não são iguais, mas a partilha é o objectivo.

Europa queres ser a casa e mãe de nós todos?
Cidadão da europa, queres estrar em casa na Europa toda?
Cidadão da Europa, queres ter força moral para falar ao mundo?
Nós cometemos todos os erros, todas as arbitrariedades, todas as barbaridades, já sabemos como dói! E como pesa na consciência colectiva, quantos recalcamentos dá!
então temos que aceitar as nossas diferenças e construir um todo, a nação europeia. Temos que aceitar os de religião diferente, os de cor diferente, o de mania diferente. Todos têm que dar á construção da nova velha europa. Se fomos pelo mundo, se as nossas línguas são faladas no mundo também  o mundo tem que nos dizer,  quer fale em hebraico, suaíli, árabe, cantonês, eslavo, japonês, mandarim ou tantas e tantas línguas que o mundo usa para dizer: Igualdade, Liberdade, Fraternidade… AMOR
A EUROPA TODA É A MINHA NAÇÃO, O MÉDIO ORIENTE O BERÇO, O MUNDO A MINHA ESCOLA…

E TU?
SÓ O TEU UMBIGO?

 

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